A minha primeira meia-maratona
Ânsia… Muita ânsia… Talvez seja a palavra que melhor descreve este dia, semana, e até último mês. Aquele nervosinho miudinho. Um pouco de medo de não conseguir. Afinal, são 21km, e sei que nunca fiz uma distância semelhante.
Chega o dia, e acordo às 3 da manhã. A mente não me deixa dormir… É hoje!! Será que vai estar sol? Será que vai estar chuva? Não interessa. Vamos!
8 horas: hora para o ponto de encontro da Equipa Dolce Furadouro, e lá estávamos nós, todos de amarelinho. Apercebi-me que não era a única ansiosa. Uns com objetivos de fazer melhor tempo do que em anos ou provas anteriores, outros porque nunca tinham ido a esta prova, e eu porque nunca tinha feito 21km!
Ânsias à arte, lá seguimos caminho até Lisboa! Aproveitei a viagem para cobrir os pés com muita vaselina. Os treinos anteriores tinham-me feito várias bolhas dolorosas, e não queria correr riscos para hoje. Gastei quase meio tubo!
A meio da viagem, olhamos lá para o fundo, e as nuvens começam a preocupar. O céu está negro, carregado de nuvens. Não demorou muito, e a chuva começa a cair com força. Chuva intensa até Lisboa. E eu só penso: “A sério? É castigo ou batismo para a minha estreia!?”. Estacionámos tranquilamente. A vontade de sair do carro é que não era muita. Estava a haver uma tempestade lá fora!!!
É hora de respirar fundo. Temos colegas de equipa à nossa espera! E não é uma tempestade que nos vai derrubar, certo!? Dentada na banana, troca de roupa, último xixi, colocação da dorsal, foto de equipa para mais tarde recordar e finalmente, está na hora!
Chove mesmo muito. Está vento. O céu está escuro… Mas agora que aqui estou, vou ter que ir… E sem dar por isso estou na meta e dão a partida! Éramos muitos. Muitos mesmo! Uns dispararam logo, a velocidades quase ridículas para mim. Outros mais tranquilos, que apenas pretendiam chegar ao fim. E eu fiquei no meio. Encontrei algumas pessoas com ritmo semelhante ao meu, e lá fui! O primeiro abastecimento era aos 5km, mas nunca mais chegava! Os 5km são assim tão compridos? Como é que vou fazer 21?
A intensa chuva molhou-me os ténis em meros segundos. Vou ter que fazer o percurso todo com tênis todos molhados… Que chatice! Ainda bem que carreguei na vaselina!
Finalmente, passei pelo abastecimento dos 5km! Não bebi água. Com a chuva que estava, nem senti sede. O vento empurrava as gotas de chuva para o meu rosto, e isso manteve-me sempre hidratada! 5km já estão. Siga!!!!
Algumas pessoas passavam por mim, outras vezes era eu a passar por elas. Estava a sentir-me bem. Respiração controlada. Ritmo controlado. O corpo estava a responder. Mesmo com o temporal, devo ter feito grande parte do caminho com um sorriso no rosto, só porque estava ali! Estava a correr numa meia maratona! A Meia Maratona dos Descobrimentos! Uma coisa a sério!!! E o pensamento começou a mudar. Talvez consiga mesmo!
Estava eu perto dos 10km, e do outro lado já está a passar o atleta que lidera a prova. WAW! Tão rápido! Passado nada surgem outros que o perseguem. Olhar para eles foi uma inspiração. Sem me aperceber, deram-me uma sensação de força, e de vontade de um dia conseguir fazer igual. E cá está ele! Abastecimento dos 10km! Pego num gel, e continuo viagem.
É já na zona de Alfama que fazemos a inversão do percurso. Significa que já falta menos de metade! Nesta zona consigo ver vários colegas meus a passarem do outro lado, colegas esses que vão mais rápidos que eu. Primeiro o Gonçalo, depois o Patrocínio. Fico toda contente por vê-los e por saber que vão bem encaminhados. Passado uns minutos a Sofia e o Ricardo, e apercebo-me que até nem estou muito longe deles. 2 minutos depois, e chega a minha vez de inverter o sentido à marcha. Vamos lá! Falta menos de metade, e as pernas estão ótimas!!!! Minutos depois vejo a Andreia e o Graça. Sinto-lhes algum cansaço, mas estão tão bem dispostos que só me deixam orgulhosa.
Chegámos ao Terreiro do Paço, e somos recebidos pela decoração natalícia da Baixa Lisboeta. Sobe sobe sobe a Rua da Prata. Desce desce desce a Rua Áurea. E siga!! Nesta altura deixa de chover.
15km! Já estão feitos 15km! Estou quase a bater o meu record! Nunca tinha feito mais que 17, e na altura com duas paragens pelo meio! Chega o abastecimento de água e banana. Decido não comer. Tinha receio que caísse mal. Pego apenas em água. Agora que já não chove, os lábios pedem hidratação.
17km e aparece o sol. Um sol maravilhoso, não muito quente, mas grandioso. Agora sim, começo a sentir dores. Pernas cansadas, anca cansada, e a cabeça começa a ficar cansada também. Afinal já são quase 2h de corrida, sozinha, sem uma única palavra de partilha. Tenho muita vontade de parar e andar um bocado. Reparo noutras pessoas a fazê-lo e a tentação é mesmo muita. Olho para o relógio, e estou nos 19km. 19…. por isso é que o corpo me pede para parar… repentinamente, dou por mim, e oiço uma voz na minha cabeça. Era o Moita! Ele dizia “Mexe-te Sónia! Mexe-te!”. Claro que ele não estava ali, mas foi como se tivesse aparecido só para me dar um empurrãozinho. E se o Moita manda, tenho que ir. Siga!
Passam 200 metros… e mais 200… e mais 200. Aiiiii. Onde é que é a meta!? Será que o meu relógio parou?
E finalmente, estou em Belém, na zona onde há precisamente 2h tinha iniciado este percurso. Vejo muita gente. Sorrisos, abraços, gritos de incentivo. Algumas palmas também. Vou conseguir!!!! A meta!
Passei-a e sou invadida por um sentimento de conquista. Tenho vontade de verter uma lágrima, mas controlo-me. Recebo a medalha. A minha tão merecida e desejada medalha. Reparo que fiz a prova em 2h e 1 minuto. Se podia ter tirado aquele minuto? Talvez, mas isso agora não me interessa. Fica para o ano. Sigo caminho e encontro os meus colegas de equipa que já tinham chegado. Estavam felizes com as suas próprias conquistas, e a usufruir do sol que agora lhes secava a roupa e cabelos. Ao vê-los não consigo aguentar e verto uma lágrima. Em troca recebo um abraço de equipa. Aquela chegada marcou-me mais do que imaginara. Há precisamente 1 ano atrás não sabia o que era correr. 10 minutos de corrida ardiam-me os pulmões. E agora, aqui estou, a concluir uma meia maratona, e com o apoio de uma equipa fantástica.
Se foi um percurso fácil? Nada! Muitas dores, muitas bolhas, muitos treinos, mas acima de tudo, muita força de vontade. Se voltava a repetir? Sem dúvida! Ao longo deste ano uma coisa em mim mudou: agora sei que para conseguir, basta querer!
Tudo teria sido mais difícil se não fosse o apoio incondicional da minha equipa. A eles, Dolce Furadouro, o meu sincero sorriso de agradecimento.